Resumo
A água de coco é um alimento rico em sais minerais, vitaminas, aminoácidos e glicídios. Embora a água de coco seja estéril, o mecanismo de obtenção desse produto pode favorecer à contaminação por microrganismos. Entre os agentes causadores de doenças alimentares, destacam-se as estirpes de Escherichia coli e Salmonella as quais possuem linhagens patogênicas causadoras de gastroenterites em humanos. Além disso, essas bactérias podem apresentar diferentes perfis de resistência a antimicrobianos, sendo considerado um problema de saúde coletiva. Assim, o presente estudo teve como objetivo isolar cepas de E. coli e Salmonella provenientes de 18 amostras de água de coco ‘’in natura’’ comercializada no município de Sinop – Mato Grosso e avaliar o perfil de sensibilidade desses microrganismos frente aos antimicrobianos pela técnica de disco-difusão, comparando os resultados as classificações estabelecidas pelo BrCAST e CLSI. Das 18 amostras, em uma foi isolada E. coli e em outra Salmonella. Foi observado que todas as cepas (5/5) de E. coli foram resistentes a Cefalotina, Norfloxacina e Ciprofloxacina. Dessas cepas, duas ainda apresentaram resistência a Amoxicilina + Ácido Clavulânico e uma para Ampicilina, sendo caracterizadas como multirresistentes a antimicrobianos. Em relação a Salmonella foi isolada uma cepa multirresistente a Ampicilina, Cefalotina e Amoxicilina + Ácido Clavulânico. A presença desses microrganismos em alimentos representa um agravo a saúde pública devido à grande possibilidade de propagação de cepas resistentes, conferindo uma maior dificuldade no tratamento clínico das doenças causadas essas bactérias. Os protocolos BrCAST e CLSI mostraram-se semelhantes, havendo diferença quanto ao comportamento de três cepas de E. coli frente a Ampicilina e a Amoxicilina + Ácido Clavulânico. Uma cepa foi classificada pelo BrCAST como sensível e pelo CLSI com sensibilidade intermediária frente a Ampicilina. As outras duas foram classificadas pelo BrCAST como resistente e pelo CLSI com sensibilidade intermediária em relação a Amoxicilina + Ácido Clavulânico. Esses resultados demonstram que é necessária a continuidade da construção de um padrão brasileiro para que os tratamentos com antimicrobianos seja mais eficaz. Diante do exposto, destaca-se a necessidade de expandir o controle quanto a boas práticas de higiene e manipulação da água de coco a fim de reduzir o risco de saúde do consumidor e diminuir a disseminação de estirpes resistentes
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